quinta-feira, 21 de junho de 2012

A fotografia

Naquela fotografia ao principio éramos quatro, eu, tu, a filha e o cão ...tu foste-te embora, a filha habitou-se a crescer e a viver sem ti, o cão morreu, e eu fiquei, eternamente triste e a chorar sem saber qual o caminho a percorrer e qual o destino a abraçar..e tu algures, longe e além, a pensar que eras o homem mais feliz do mundo.....e sem o ser.
Aquela fotografia do principio era irreal, não existia, mas eu não sabia. Pensava que íamos ficar eternamente juntos, como na fotografia, mas a fotografia ia mudando lentamente á medida que o tempo passava...umas vezes eu também desaparecia da fotografia, ia mas voltava...e nesse instante, do meu desaparecimento tu ficavas na fotografia a sós com a filha e o cão. Eu desaparecia, mas voltava, desaparecia só por algumas horas, tinha que ter tempo de pensar e de poder voltar. Outras vezes eras tu que desaparecias mas nunca só, (acho que sempre tivestes muito medo da solidão). Desaparecias umas vezes com a filha outras vezes com o cão...outras das vezes com a filha e o cão. Mas voltavas, voltavas sempre e eu ficava tranquila a pousar na foto e á tua espera, á vossa espera. Sabia que voltavas, sabia que voltavas e é por isso k sempre que olho a nossa fotografia do principio eu estou sempre sorrindo...Nunca gostei muito de sorrir, nem muito menos de rir para fotos, sempre achei estranho que  muita gente possa ser assim:.um, dois, três, sorria. Sorria para a foto, sorria porque está a ser fotografado. Mas aquele sorriso da nossa  primeira fotografia eu estou sorrindo, porque sempre pensei que voltarias e não pensei que tinha que sorrir, senão por acaso talvez não pudesse ter conseguido sorrir.
Infelizmente a fotografia desapareceu e ardeu para sempre. Mesmo que queiramos, eu, tu a filha e o cão já não existem, já não existimos na fotografia, a fotografia simplesmente morreu, desapareceu, ninguém a rasgou ninguém a ardeu, ninguém a perdeu simplesmente já não existe! Apenas foi o tempo que a matou e a cortou aos pedaços. Já ninguém está parado na fotografia á espera de nada nem de ninguém...simplesmente fomos saindo da foto um a um...primeiro tu, depois eu e a filha e por fim o cão...simplesmente o tempo e a circunstancia das coisas, separou-nos, e atirou-nos contra caminhos diferentes....))

quinta-feira, 14 de junho de 2012

A viagem



Quando tinha vinte anos, decidi nas ferias de verão com a aprovação (pendente dos meus pais) viajar pela Europa,. segundo as minhas "francas e honestas" palavras: tinha como intuito de ir fazer vindima em Franca e voltar.
Sendo assim nas ferias de verão de 89, acabei por fazer essa viagem na companhia de uma amiga. Não posso dizer que eu e a minha amiga  acabamos por viajar como  que num "inter raile", Porque alguns dias antes da nossa viagem, como que num ápice e no meio de alguma gente conhecida, a minha carteira desapareceu com todo o dinheiro que eu tinha para a viagem. À minha amiga restava-lhe algum dinheiro das ferias do verão, que solidariamente quis compartilhar comigo, mas com a falta de fundos vindos da minha parte e feitas as contas, não tínhamos dinheiro quase para comer,  muito menos para bilhetes de comboio.
 Decidimos então dar a volta á coisa,  não desistir da viagem, e viajar de forma mais barata.  À boleia e sem destino!

Nunca é difícil andar á boleia quando sê é jovem e muito especialmente se pertence ao sexo feminino, de maneira que não foi difícil termos acesso a  boleias directas e de longo percurso. Estilo:um autocarro vazio destinado ao transporte de turistas (dentro da Europa), só para nós. Mas houve várias vezes que viajamos com camionistas, nessa altura combinávamos eu e a minha amiga,  não adormecer  ao mesmo tempo. Embora tenham sucedido algumas situações onde as palparas não quiseram obedecer ao cérebro e teimaram em baixar, assim seja, a divina promessa feita entre as duas de não adormecer ao mesmo tempo, foi supostamente anulada,  mas a sorte deve ter falado muito alto nesse verão de 89, porque perante tantos actos impensáveis, chegamos as duas sãs e salvas ás seis da manhã á Holanda, a uma quinta onde havia algumas vacas  a pastar. No dia anterior, Tínhamos acabado de sair da cidade  Madrilena (sob a arrasadora temperatura escaldante de quarenta e dois graus) e chegado no dia seguinte á Holanda numa manhã, triste cinzenta e amena, tipica de verão do norte. Já tínhamos passado por vários países. Mas como na realidade ninguém nos esperava, nem tínhamos destino nenhum, a Holanda seria então o nosso "Eldorado", segundo nós, a meta final da nossa viagem. A Holanda era na altura, dos anos oitenta /noventa, proclamada pelos jovens mais alternativos da  Europa o pais das maravilhas. Uma experiência fenomenál de uma Europa um pouco menos-clássica, e mais liberal!

Retornando o pensamento a Madrid. Lembro-me do calor infernal que fazia nesse ano em que viajei de 1989 do mês de Julho, na cidade de Madrid. Nada pior que uma cidade do sul da Europa, cimentada a ferver e a borbulhar calor, no mês de Julho ou Agosto. Sou um pouco como as cobras, adoro o calor, e tal como estes bichos, não me deito no meio de uma estrada cimentada de papo para o ar a torrar ao sol, (porque parece mal e pode passar um carro), mas nesse verão Madrid ardia. O calor era tão intenso que o meu cérebro estava proibido de pensar, o corpo de gesticular e o ritmo cardíaco galopava a cem á hora. Nesse  momento á boleia e á beira de uma estrada , só desejava uma coisa: uma brisa de ar fresco, atirar a mochila poeirenta e pesada contra a terra seca e gretada pelo sol. Baixar o dedo, fugir dali para fora e atirar-me ao mar!
Passado uns dias e já na Holanda. Num dos largos principais de Amesterdão, conhecemos uns "freaks" que tal como nós vendiam umas coisas mais ou menos feitas artesanalmente. Eu e a minha amiga já não tínhamos quase dinheiro nenhum e andávamos á vários dias a comer comida "Krisna" ( comida gratuita mas detestada por ambas). Nessa altura e em Amesterdão, vivíamos num apartamento emprestado por um "Raster" que conhecemos, e que teve a gentil subtileza de nos emprestar o apartamento de um  amigo. Nós já conhecíamos Amesterdão, e achamos que já não havia muito mais a fazer naquela cidade, para alêm de andar de bicicleta, olhar moinhos,  tulipas, e beber chá em cofee shops. Combinamos então com os nossos amigos "freaks",  viajar com eles até á Dinamarca a um  popular festival de musica e voltar para a Holanda terminado o Festival!. Decidimos entre as duas, que as nossas mochilas ficavam pela Holanda na casa emprestada, pois a viagem até á Dinamarca, seria curta e rápida e ambas estávamos muito fartas de andar como que em preguinacão com as mochilas pesadas ás costas por todos os lados. Mas o destino ás vezes é irónico. Nunca mais vimos tais mochilas com todos os nossos pertences (incluindo fotografias nossas) e nunca  mais voltamos as duas juntas á Holanda.

Chegada a Copenhaga ás duas da tarde num carro de aspecto duvidoso e de matricula Holandesa: uma alemã, dois israelitas, e duas portuguesas. indivíduos entre os 18 e os 30 anos, paragem obrigatória pela policia, todos obrigados a sair do automóvel, todos para a esquadra. Alguns minutos depois, fechados numa cela, sessão de fotografias, tirada um a um.
Eu: ar assustado e infeliz. A minha amiga: ar ainda mais assustado e ainda mais  infeliz. Os restantes passageiros: cara de quem já tem calo no assunto, e passou varias vezes por essa situação..
Suspeita: possibilidade de posse de produtos fumados ilícitos. Resultado da busca efectuada pela policia: nada encontrado.
Resultado final: libertos após 5horas claustrofóbicas de cativeiro e de sessões estupidamente fotográficas.

Nunca voltamos à Holanda, não tivemos dinheiro para o barco e entretanto, perdemo-nos dos restantes amigos de viagem. Para bem dos nossos pecados, (sem dinheiro algum e somente na posse dos nossos míseros bilhetes de identidade), encontramos em Christiania (aldeia alternativa em Copenhaga oriunda dos anos 60) um português que tinha um bar algures na cidade de Copenhaga. fomos viver para o apartamento dele, pois após um mês e meio de viver em Christiania, começamos a ficar fartas de dormidas ao relento ou de dormir em casas feitas de ramos de árvores, casas essas alternadamente sustentáveis por esses mesmos ramos ou de dormir em  buracos  imensamente profundos, escavados na terra.estilo: Habitat de toupeira, o qual  nós chamávamos de casas. Saímos felizes de Christiania. Saímos de Christiania, só após dois meses, felizes por termos encontrado um português simpático que parecia pertencer á nossa tribo e orgulhosas pelo nosso novo look, de  pircing nasal, evento esse, que marcava a diferença nos anos 80.......