sábado, 26 de abril de 2014

























































A banheira

Há tanto tempo que não faço isso, que saudades, deitar-me numa banheira debaixo de água e tapar o nariz, oiço o vizinho do andar de baixo, não consigo perceber o que diz...mas oiço-o falar, soletrar...palavras soltas, sons distantes. Gosto da banheira da casa dos meus pais, tenho uma afinidade muito próxima com essa banheira, conhecemos-nos em crianças, eu tinha quatro anos, a banheira somente uns dias, penso que foi amor à primeira vista...,
Costumava ser assim, nariz tapado, boca fechada...e permanecer debaixo da água o maior tempo possível, até  não se poder mais conter a respiração, a banheira da casa dos meus pais, faz- me recordar os sábados à tarde às cinco, depois da série televisiva, "uma casa na pradaria", agora quando a vejo, a banheira parece-me mais curta...muito mais curta...antes era enorme, dormia dentro dela, até os dedos dos pés e das mãos ficarem engelhados...de vez em quando, tirava a cabeça debaixo de água e escutava a minha mãe ao longe, atrás da porta fechada da casa de banho, o som vinha da cozinha...e ouvia-a falar, a avisar-me que a água já devia estar fria...que já estou dentro da água há muito tempo...que pode fazer mal....que posso apanhar uma congestão, as congestões Portuguesas, são famosas, oiço falar delas desde os 4 anos....penso..que. será  só em Portugal,  que as pessoas morrem de congestão?

A digestão, a banheira, e a praia da Costa da Caparica, teem um sentimento valioso,  guardado na memória das coisas da minha infância...lembro-me que.adicionado à banheira, vinha sempre a seguir a palavra, gás, oiço de novo a minha mãe, através da porta grossa e castanha da casa de banho, ao longe da cozinha -olha o gás, o gás? essa palavra, era adicionado às coisas da minha infância, as famosas garrafas de gás, bati com a cabeça numa delas quando tinha dois anos,  ...quatro pontos consistidos numa  cicatriz ao lado do olho esquerdo, as garrafas de gás são assustadoras, tais como os tijolos vermelhos..., não chego às campainhas, treze pontos, quase a perna toda, a minha mãe a chorar, ela era tão miúda, tão assustadiça e pequena, quase uma adolescente...e eu não sabia,....liga o esquentador! dizia o meu pai... Agora já não se liga os esquentadores pai.......são inteligentes, .acho que também, já não existirá, gerações, novas a escutar palavras e sons tais como..."liga o esquentador" "sai da banheira!" "olha a digestão"....olha o gás!...o tempo afasta- se de nós... afinal não somos nós que nos afastamos dele, ele é que se vai afastando de nós lentamente , dia após dia,... e vamos ficando assim velhos, velhos e presos à memória de infância por coisas absurdas e insignificantes da vida, como episódios em que nós, as banheiras, as garrafas do gás e os esquentadores, são coisas quase importantes....que às vezes também falam.