domingo, 27 de maio de 2018

O Amante

O Amante

No outro dia, olhastes de perto para mim e aproximaste-te, as nossas caras ficaram de perto, uma muito perto da outra, e nesta imobilidade de mim aquando de demasiada aproximação, deixei-me ir.....como se a vida fosse feita de pequenos estratos de filmes, e em que cada dia, eu sou um personagem diferente, depois veio o vazio, das coisas que fizemos e daquelas que ficaram por fazer, os juízes não estavam lá, então não tivemos ninguém a assistir....tudo dependia de nós, podia- te dizer que a nossa história acaba aqui, pois agora mesmo começou, gosto de acabar histórias que começam bem, porque tenho medo que acabem mal, assim posso fantasiar o futuro....e anasteciar-me no presente, e pensar que nada perdi...

Gosto de enganar- me a mim própria, mas eu não te amo, amor!, nem nunca te vou amar, mas gosto de ti! e não te vou contar isso....o meu amor, o meu coração já pertence a um outro, que não compreende estas palavras....mas tu sim!

Desculpa, porque me enganei, mas queria antes ter bebido, um só café contigo, chorado no teu ombro e dizer que afinal, gostei da companhia, mas que tenho que me ir embora...já era tarde, a noite tinha caído, cai às vinte e duas horas, é assim no verão.....é quase sempre assim todos os verões, aqui, um pouco no norte do mundo!

Há coisas que não podemos explicar, mas quando as tuas mãos grandes, apertaram as minhas, eu senti- me segura, -" tenho as mãos grandes"....sussurrastes-me tu, aos ouvidos, quase a pedir -me desculpa...mas eu gosto de mãos grandes, as mulheres gostam de homens de mãos grandes, as mulheres gostam de homens de mãos grandes, porque gostam de se sentir seguras...contei-te!

Parecias satisfeito, com as palavras, mas entre nós quase nada ficou, talvez um brinco esquecido, entre montes de trapos, no meio do chão, um brinco aqui um relógio ali, vou perdendo pecas por onde apareço e desapareço.....pequenos fantasmas da minha pessoa, dispersos e deixados em quartos de amantes por amar....amo-vos a todos, mas desculpem, não vos posso amar mais.....nem estar com vocês, porque não tenho tempo!

Imagino-te, perto de mim, vamos de mãos dadas, as tuas mãos grandes, seguram as minhas mãos pequenas e delgadas...vamos pelo mundo, sem juízes, e com tempo, viajamos pelo mundo, e tu deste-me a tua manta, quando eu tive frio, ...comida na boca e eu senti-me protegida, como um pássaro pequeno de bico aberto no seu ninho....balançando-se fragilmente, sob o vento dos ramos das árvores.....

"Obrigado, por teres estado comigo"...disseste-me tu, e eu escutei, e eu escutei o doce das tuas palavras....e pensei nelas....

O outro, que já me levou, voei com ele, mas não sei de nada, não sei se tal como tu, também tem as mãos grandes.....assim tão grandes como as tuas....ou um olhar gélido, por vezes distante...
apaixono-me pela sua frieza, pela rigidez das suas frases, por lhe pertencer às vezes....e por não me saber amar.......

Mas agora já não adianta, pois agora, já estou sentada no silêncio...