segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

o tio e a tia saloia

Depois de alguns anos a trabalhar com o AIRBNB cheguei agora á conclusão que até percebo de pessoas. Pela minha casa já passaram muitas pessoas, a maioria estudantes Erasmus, oriundos de todos os cantos do mundo, desde o Canadá á Austrália passando pela Ásia até á Europa.
Todos nós sabemos que as pessoas são diferentes umas das outras, mas quando originárias do mesmo pais existe sempre qualquer coisinha que as une, por exemplo aprendi que os chineses gostam de beber um copo de água quente logo quando acordam, acham que desta forma estarão mais preparados para o dia, as espanholas nunca saem de casa sem secar o cabelo com o secador, pelo menos durante uma hora e cantam enquanto se banham. Os canadianos e Australianos, gostam de festejar e beber, os Islávos são tímidos quase nervosos e muito educados e comem muitos ovos,  e os franceses nunca fecham a porta do quarto (coisa que não percebo porquê) e falam muito mal Inglês!

O "Tio" saloio francês, chegou a minha casa, eu gosto dos saloios, até são boas pessoas, costumam ser francos e não têm muitas papas na língua mas podem ser "perigosos" porque dizem quase sempre o que lhes vem á cabeça e nem sempre medem as palavras, mas  com "Tios" ou "Tias" saloias nunca tinha tido nenhuma relação próxima.

O "Tio" saloio que chegou á minha casa, vem de Bordeaux, de uma cidade qualquer da província, considera-se um ser superior muito inteligente, com a expressão altiva e azeda de quem acabou de engolir um limão, gosta de fazer perguntas ás quais sabe a resposta, mas fala sempre com o intuito de ridicularizar o individuo a quem está a questionar, faz, perguntas do tipo: "então vocês os portugueses quando saem do pais vão para aonde?" e eu a pensar: "coitadinhos de nós portugueses temos mesmo muita má fama em todo o lado mas muito mais em terras francesas, Ai que este gajo está me a irritar, e o "tio saloio" continua o dialogo, falando da famosa imigração portuguesa dos anos 60 que tanta boa fama de saloios nos deu,  e continua acrescentando ao seu dialogo "quase todos os portugueses em Franca são porteiros ou pedreiros" e eu respondo tentando ser civilizada mas já a morder o lábio de baixo com a raiva que sinto que está a enfestar-me o corpo e a alma e respondo: "mas já não é bem assim isso era outros tempos" o " tio" saloio continua o discurso no seu Inglês  muito fraco e duvidoso, acrescentando ao seu inquérito: " e sabes falar dinamarquês?" pergunto a mim mesma, como é que uma pessoa pode ser tão burra socialmente e tão ignorante, respondo-lhe com ares de quem  diz" por favor porque é que não te vais catar? mas o rapaz não percebe a minha expressão corporal, pois para alem de "tio saloio" também deve ser autista, respondo "então se vivo aqui há 27 anos e dou aulas de educação visual em escolas dinamarquesas, que língua achas que falo com os miúdos?"

A palavra "saloio" é uma palavra curiosa, surgiu quando os galegos foram para Lisboa vender couves, depois desse fenómeno social, todas as pessoas que nasceram, viveram e cresceram em Províncias sejam elas cidades ou aldeias, são denominadas com piada por "saloias"...

Os "tios" saloios e "tias" saloias são uma tribo que infelizmente não está em extinção, a tia saloia é estupidamente snob, finge gostar dos pobres e dos provincianos mas não gosta, é possuidora de uma extrema moralidade dupla e é pior que a "tia urbana", pois em zonas pequenas rurais ou semi-rurais, sente-se a rainha da festa e gosta de ridicularizar e desprezar os outros, sempre dona de um enorme mau gosto, pode ser morena de traços muito latinos quase árabes ás vezes, mas de madeixas loiras, óculos de máscara, e calcas á boca de sino, pode lhe faltar um dente, mas nunca lhe faltará um carro ou um jipe de marca para conduzir, a tia saloia e o tio saloio, quando viajam de férias para o estrangeiro, viajam sempre com outros casais, estes também muito bem sucedidos na vida, (parece que todos estes casais antes de viajar se a viajem for para países frios) foram todos á mesma loja comprar o kispo da mesma marca, mas em cores diferentes, geralmente dá a ideia. quem avista de longe, de ser uma equipa qualquer vinda do sul da Europa que vem esquiar (mas na Dinamarca não há montanhas) o tio saloio geralmente usa um "abájur" na cabeça, aqueles penteados grandes de cabelo vasto, que todos os homens de dinheiro e bem sucedidos na vida em Portugal tem que usar!
A tia saloia quando se pronuncia, expira e prolonga muito sempre as silabas, geralmente vogais, por exemplo se perguntar; "porquê?" fá-lo assim: "... e porquuuueeeee e e? ou seja expira a vogal sempre mais prolongada que outro ser qualquer...  deve está escrito algures que as pessoas muito inteligentes e importantes têm que prolongar as vogais....

O meu "tio saloio de Bordeaux", segundo ele, oriundo de famílias muito importantes e de brazao, mas já sem "chateau" e a contar moedas, quando se expressa também prolonga muito as vogais mas claro estas em francês,....

o tio saloio é de estatura pequena, nasceu já velho, 22 anos, quase meio calvo, olhos azuis quase mortos, tez branca, óculos, de aspeto "nurt" já a iniciar o quinto de medicina, aspeto aborrecido,
Hoje chegou a casa chateado, porque os Dinamarqueses não o perceberam quando fala Inglês, e ele que pensava que era "such an important person" suavemente, dei-lhe uma palmadinha nas costas e disse-lhe não te preocupes eu ou a minha filha podemos te ajudar, disse que sim num sorrisinho amarelo, de quem sorri em vez de me dizer....porque é que não vais á merda? e foi para o quarto!


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Amor

Amor

Sentada e estranha nesta tua ausência, habituada de ter te a ti aqui ao meu lado, ouvindo o teu sonhar perco- me na dimensão dos teus olhos vivos e cheios de tudo, o amor veio ter comigo, mas veio devagar, entrando assim em pulinhos minuciosos esperando uma aprovação....tu nunca me deixastes, sempre ficastes aqui há espera do meu amor, e eu já te amava sem querer saber se podia te amar ou não, tu querias- me tanto!. e eu que sou poeta sem querer e sem o ser, demorei a compreender que tu me querias. Já é tarde para voltar atrás e o tempo fugiu de nós! tu que sempre me pedistes para te escrever uma carta de amor, nunca o fiz, mas agora que tu já te fostes, estou segura em faze-lo!

Esguios e magros, dois corpos se tocam, o teu cabelo grisalho e vasto, feito de poeta sofrido, alivia-se nos teus olhos escuros de mouro sem castelo....já ganhastes tantas batalhas .... já perdestes tantas guerras amor, e eu queria tanto aquele teu amor de volta!

O amor se existe, é meta-fisico e físico, tão físico como os beijos que trocamos, como o amor que fizemos.....agora na palma da tua mão, nos teus dedos magros e esguios,  entrelaçados, discretamente nos meus, encontrei o suor que se juntou ao meu,  e assim ficamos parados empreganhados para sempre um no outro....

Mas a cidade era grande! grande como uma casa de janelas abertas para o céu. Sabes que as estradas que percorremos já se gastaram? delas ficaram só as pegadas desenhadas em passos pequenos e só porque o vento deixou! por isso te peco amor, mostraste -me outra vez a cidade que eu não conhecia, mostra-me o doce timbre da tua voz porque eu quero acreditar outra vez...

A paixão deu lugar ao amor, foi-se embora singela e discreta, assim quase como quando entrou, Fechei a porta e a janela, e quis ficar aqui sentada esperando... estranho, discreto, seguro, quase aborrecido!

Deitei me assim a seu lado sem o querer perturbar! sem o querer acordar! senti-me só! ele estava lá, olhava-me! mas nós éramos estranhos, quase como dois inimigos...
o silencio da neve acalmou-nos, levou-nos ao branco e à dimensão da magia das coisas quase estáticas, que só se mexem quando nos queremos, e ai amor seremos felizes!

Sabes que as pegadas que outrora foram levadas pelo vento, reapareceram de novo? a neve, essa.... continuou a cair...mas desta vez muito mais devagar....