domingo, 19 de fevereiro de 2012

Aquilo que escrevo

Sabes Margarida? Estou assustada  mas, não consigo ler aquilo que escrevo, ainda ontem tentei, mas as palavras fugiram.
Sentei-me á margem do rio e senti a tua mão no meu ombro. Que paz. Pensei. Eu sei que só queres ser meu amigo ou meu aliado, mas também sei, que aquilo que escrevo, tu também não podes ler.
Estamos os dois cegos, de mãos dadas sentados á beira do rio. Entre nós, o livro que escrevi, e que ambos não conseguimos ler.
Esse livro não se pode ler. disseste-me tu, ontem á tarde ás vinte e três da noite. Estavas zangado. Sentado á minha frente. Estavas zangado, mas pegavas-me na mão, enquanto dizias que não conseguias ler o meu
livro.Virei-te a cara e odiei-te no momento. Chamei-te estúpido, enquanto chorava. Limpaste-me a lágrima.e disseste-me que não fazia mal. Que não faria mal, se não conseguisses ler o meu livro. Que não faria mal se ambos não conseguíssemos ler o meu livro.
Mentes-me mais uma vez. Podes parar com isso, podes parar de me mentir?. O teu sorriso é cínico. Não é verdadeiro. Sabes? a minha avó que nunca conheci, ensinou-me a ler sorrisos. Ela não está aqui neste mundo mas sim noutro. Ontem pegou-me pela mão, e voei com ela. Mostrou-me onde morava. Disse-me : Tenho um lugar no céu. Disse-me a minha avó que, nunca conheci, e que se chamava Bárbara. Vou-te ensinar a ler sorrisos. Prometeu-me a minha avó....
Gosto da casa da minha avó, juro que estou contente por ter um lugar no céu, também juro que estou contente, porque ela. A minha avó, ensinou-me a ler sorrisos. E tu feito parvo, sentado aqui á minha frente. seguras-me na mão e juras que não faz mal, não conseguires ler o meu livro. Dizes- mo enquanto sorris cinicamente.
Sabes Margarida? Estou assustada. Estou paralisada de medo. Acho que já me perdi, agora já nem consigo abrir o livro. E quanto tempo o demorei  a escrever e olha que até  é longo. É que tinha tanta coisa para contar. Estamos os dois no café, e tu ainda me seguras na mão e matas a minha lágrima. Tentas me tranquilizar. Sim. Respondo-te. " Já voltei da viagem á casa da minha avó, o caminho não é longe, apesar de ficar algures no outro lado do mundo".
Esperas-te este tempo todo por mim? olha, admiro a tua paciência, sei que és cínico mas paciente, que só sabes sorrir, sorrisos cínicos. Trago o livro comigo. Vamos tentar mais uma vez. Eu e tu e a ignorância destas minhas palavras.
Acaricias-me o cabelo, desculpando-me as palavras agrestes. Falo-te da viagem á casa da minha avó que fica no outro lado do mundo, falo-te dos sorrisos que a minha avó me ensinou a ler. Acrescento á conversa, que tenho medo do verão. Olhas-me intrigado. Achas que sou louca, quase doente mental. Levanto me da cadeira, despego-me de ti. Levantas- te da cadeira. Seguras-me com forca na minha mão. Imploras-me para que não vá, que fique ali, sentada ao teu lado com o livro fechado entre nós. Sorris. Um Sorriso cínico, daqueles sorrisos, que a minha avó que nunca conheci, me ensinou a ler. Volto-te as costas. Roubo-te o livro e atiro-o ao mar!       

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