domingo, 22 de janeiro de 2012

Mãe, tu bateste á porta!

Mãe, tu bateste á porta mas eu não abri...desculpa, mas é assim!....todos os segredos que guardo comigo, nunca os quiseste escutar, tens medo de ser confrontada com a verdade, sim... eu sei que ás vezes  a verdade pode doer!
Quero que neve... quero sempre que neve, sinto-me assim segura e sossegada na imensidão branca do silencio da neve!....mãe, já te disse que não te posso abrir a porta, porque insistes em  interromper o meu silencio?....não sou poeta, nem filha de ninguém, e por isso não quero abrir a porta! quero simplesmente, permanecer assim....sozinha, sossegada a respirar pensamentos, encostada na almofada do silencio...obrigado inverno, porque me ajudas a entrar nessa tua imensa tristeza, que me tranquilizas no teu frio, e me empurras na  tua solidão, fazendo-me avivar o sétimo sentido,  pode-se ser feliz, sozinho...dizes-me ao ouvindo, lançando frases fortes! desafiando a minha existência! atirando-me contra a parede! anulando a minha pessoa.... assim ...sozinha!....dizes, enquanto me embalas, e... eu adormeço... hibernando palavras,  acreditando nas tuas palavras, nos teus pensamentos e desejos.....
Mãe, não por favor não batas mais á porta!...não vês que me perturbas e me fazes acordar neste sono de inverno do qual não quero acordar...deixa-me descansar...não quero sequer pensar que tenho que me levantar e abrir a porta....sabes? a neve já cai, e continua a cair, tudo fica branco e gelado, e eu... e eu sozinha, sem a tua companhia...só eu e o inverno, e a minha mãe a bater á porta...e o silencio, silencio que é meu, que dorme todos os dias comigo na cama...não, não tenho amantes!.....sou-te fiel.. mas, não revelo a ninguém esta nossa relação...somos assim, amantes... amantes independentes...eu e o silencio...somos próximos, mas distantes!...próximos, porque nos amamos, distantes, porque somos feitos de distintas matérias.
 Tenho medo, tenho medo de me tirarem o involcro que me cobre.., desvendando, assim silêncios!, desvendado segredos!....mãe, não por favor não batas mais á porta...não vês que  estou no prazo final...não vês que  o silencio esta a acabar, e o que farei quando o inverno findar?... quem me vai embalar na noite?...quem me vai contar aos ouvidos, segredos por revelar? quem me vai embalar no silencio?
 Hiberna para sempre..diz-me suavemente, o silencio do inverno ao meu ouvido... é mais fácil...continua dizendo...e eu..anulo-me de tudo e todos, quero estar só...quero estar só, mas tenho medo que ele se vá, e que o sonho termine... no inverno tudo é mais fácil, porque tudo é mais verdadeiro...e a neve continua a cair...e a minha mãe mais uma vez bate á porta...vai te embora! digo-lhe por entre a ranhura da porta...vai te embora!...continuo-lhe a pedir docemente....mas, ela bate á porta e continua a bater....quer me levantar do silencio! quer me arrancar palavras! destapar-me do meu sono!...e eu continuo lhe a dizer...mãe, não vês que não tenho mais forca! não vês que seria  mais fácil se pudesse hibernar... se pudesse hibernar...para sempre neste silencio branco de inverno gelado!
A minha mãe bate mais uma vez á porta...e continua batendo,  mas eu não abro!.....espreito pela ranhura e vejo-a a ir-se, vejo-a a ir-se embora...vejo-a a deslizar vagarosamente, triste, cabixada.... descendo passo a  passo o degrau da escada....
Volto para dentro, deito-me ao lado do silencio, e ficamos assim, os dois juntos lado a lado de mão dada, ouvindo a respiração suave, um do outro...eu e o silencio...lá fora a neve continua a cair... a minha mãe não bate mais á porta...deixou de bater, e eu adormeço para sempre no silencio branco e gélido do inverno...escondendo segredos, hibernando histórias...hibernando histórias,  por revelar!

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